Julgado cobrado na prova do TJ/SC para o cargo de Juiz Substituto, realizada em 2025.
Destaque (Informativo nº 823 do STJ)
A
exigência do efetivo prejuízo, em relação ao ato de improbidade administrativa
que causa lesão ao erário, prevista no art. 10, caput, da Lei n.
8.429/1992 (com redação dada pela Lei n. 14.230/2021) se aplica aos processos
ainda em curso.
Ementa
ADMINISTRATIVO. ATO ÍMPROBO. DANO PRESUMIDO. ALTERAÇÃO LEGAL EXPRESSA. NECESSIDADE DE EFETIVO PREJUÍZO. MANUTENÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA DO STJ. IMPOSSIBILIDADE.
1. Em sessão realizada em 22/2/2024, a Primeira Seção, por unanimidade, cancelou o Tema 1.096 do STJ, o qual fora outrora afetado para definir a questão jurídica referente a "definir se a conduta de frustrar a licitude de processo licitatório ou dispensá-lo indevidamente configura ato de improbidade que causa dano presumido ao erário (in re ipsa)".
2. Após o referido cancelamento, ressurgiu a necessidade desta Primeira Turma enfrentar a seguinte controvérsia jurídica: com a expressa necessidade (tratada nas alterações trazidas pela Lei 14.320/2021) de o prejuízo ser efetivo (não mais admitindo o presumido), como ficam os casos anteriores (à alteração legal), ainda em trâmite, em que a discussão é sobre a possibilidade de condenação por ato ímprobo em decorrência da presunção de dano?
3. Os processos ainda em curso e que apresentem a supracitada controvérsia devem ser solucionados com a posição externada na nova lei, que reclama dano efetivo, pois sem este (o dano efetivo), não há como reconhecer o ato ímprobo.
4. Não se desconhece os limites impostos pelo STF, ao julgar o Tema 1199, a respeito das modificações benéficas trazidas pela Lei 14.320/2021 às ações de improbidade ajuizadas anteriormente, isto é, sabe-se que a orientação do Supremo é de que a extensão daquele tema se reservaria às hipóteses relacionadas à razão determinante do precedente, o qual não abrangeu a discussão ora em exame.
5. In casu, não se trata exatamente da discussão sobre a aplicação retroativa de alteração normativa benéfica, já que, anteriormente, não havia norma expressa prevendo a possibilidade do dano presumido, sendo este (o dano presumido) admitido após construção pretoriana, a partir da jurisprudência que se consolidara no STJ até então e que vinha sendo prolongadamente aplicada.
6. Esse entendimento (repita-se, fruto de construção jurisprudencial, e não decorrente de texto legal) não pode continuar balizando as decisões do STJ se o próprio legislador deixou expresso não ser cabível a condenação por ato ímprobo mediante a presunção da ocorrência de um dano, pois cabe ao Judiciário prestar a devida deferência à opção que seguramente foi a escolhida pelo legislador ordinário para dirimir essa questão.
7.Recurso especial desprovido. Embargos de declaração prejudicados.
(REsp n. 1.929.685/TO, relator Ministro Gurgel de Faria, Primeira Turma, julgado em 27/8/2024, DJe de 2/9/2024.) Grifo nosso.
Questão da FGV
Em 2015, o Município Gama, representado por Sérgio, secretário
de finanças, contratou, com inexigibilidade de licitação,
determinada sociedade empresária para o fornecimento de
equipamentos eletrônicos. Em 2017, o Ministério Público
ajuizou ação de improbidade administrativa contra Sérgio, com
base no caput do Art. 10 da Lei Federal nº 8.429/1992 (LIA),
alegando, em síntese, que a contratação direta da empresa não
observou os requisitos legais, sem apontar o prejuízo que teria
sido causado pelo ilegal ato de inexigibilidade.
À luz das alterações legislativas promovidas pela Lei Federal nº
14.230/2021 e da jurisprudência atual do STJ, Sérgio:
(A) não deve ser condenado por ato de improbidade, pois, no
caso, há exigência do efetivo prejuízo, por força das
alterações legislativas promovidas pela Lei Federal nº
14.230/2021;
(B) deve ser condenado por ato de improbidade, pois a hipótese
não comporta aplicação retroativa da Lei Federal nº
14.230/2021, vigendo ainda o regime da presunção de
prejuízo, segundo o entendimento do STJ;
(C) deve aguardar o julgamento do caso pelo Tribunal de Contas
competente, na medida em que somente a análise técnica do
contrato por aquele órgão de controle permitirá concluir pela
existência ou não de prejuízo no caso concreto;
(D) deve ser condenado por ato de improbidade, pois a
jurisprudência do STJ ainda permite a condenação com base
no caput do Art. 10 da LIA, desde que o fato tenha ocorrido
antes da vigência da Lei Federal nº 14.230/2021;
(E) deve ser condenado por ato de improbidade, pois a
moralidade administrativa impede a vedação ao retrocesso
na tutela da probidade da Administração Pública, sendo
inconstitucional a interpretação retroativa no caso.
Gabarito: A
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